quarta-feira, outubro 01, 2003

Lo que siento

"Outrora eu era de aqui e hoje regresso estrangeiro. Prisioneiro do que vejo e ouço, velho de mim! já vi de tudo. Ainda o que nunca vi nem o que nunca verei. eu reinei no que nunca fui."

Fernando Pessoa me falou isso ontem, na voz de Maria Bethânia. "Velho de mim"... o que será sentir-se velho de si mesmo? eu sinto. Não cansaço, mas rebeldia. Cansaço esgota, rebeldia pede mudança.
E tudo lembra tudo, portando desenterro mais um para essa prosa furada: erga-se Raulzito, com sua "Metamorfose Ambulante" , pois é exatamente o que somos todos, porque toda a nossa razão se esvai na incerteza do que acabamos de afirmar e varia na circunstância próxima, aquela imprevisível.
Mas somos tão pedantes.

"Minha vida é um palco iluminado
eu vivia vestido de dourado.
Palhaço das perdidas ilusões!"

Ah! Bethânia... isso é tudo o que sou. Eu, você e o resto desta racinha humana não passamos de pequenos atores, encenando uma peça sempre brega demais, dirigida por nós mesmos, mas escrita sabe-se lá como e por quem.
Somo afirmativamente incertos. Cremos demasiadamente no nada, já diria Nietzsce. Fodam-se os túmulos que violei! hoje tô de licença poética (roubada e fria) e não me permito acreditar em nada que contenha qualquer conteúdo racional.
Somos tão paradoxais quanto mesquinhos e acreditamos conter o universo em nossas teorias. São tantas e tão precisas que desconfio de todas.

Mas hoje não, hoje não quero inteligir o mundo.

Hoje o que quero é sentir. Sentir ao extremo.
Quero impulsos e enzimas, neurônios e hormônios.

Quero aqueles olhos verdes, aquela boca carnal. Quero seu perfume e sua pele e sua voz. E assim unidos, deixarei me esvair de toda a razão e que meu coração,acelerado, me conduza à verdade.

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