Viajando pelas veredas de mim mesmo encontrei, guardadas, certas coisas das quais sempre acreditei ter me livrado, por não gostar. Eram lembranças ruins, em que sofro.
E elas estavam guardadas em mim.
Descobri, na verdade, que nunca quisera perdê-las. Estranho apego ao insucesso, estranho culto ao desconforto.
Acomodei-as em memórias sempre visíveis e, por mais insólito que isso possa parecer, fiz, com elas, um ambiente para o qual fujo sempre que algo me assusta.
É como um quarto de misérias que construo quando deveria destruir.
Tentei ignorá-las, rir-me delas e lançá-las fora de vez, mas falhei no propósito. À medida que me desfazia, colhia-as de volta com o desespero de quem cata papéis ao vento.
Notei que não era involuntário, havia vontade minha ali, originada não sei de onde.
Surpreso com minha própria natureza, parei de tentar interferir e fiquei só contemplando toda a dimensão do enorme paradoxo que faz de mim o estranho ser que sou.
Estranho, ser esse ser. Ser esse ser humano estranho.
Humano, estranho ser.
Estranho ser humano, esse ser humano estranho que...
amo ser.
terça-feira, abril 18, 2006
Ego trip
sexta-feira, abril 14, 2006
dimensão de nós
Onde estivemos?
perdidos, ambos, num mesmo olhar.
Fugimos,
e fixamos morada num ponto onde todas as dimensões foram uma única coisa:
verdade.
A verdade de nossos corpos e almas, a verdade humana do amor e da carne,
aquela coisa única que só sentimos ali.
Sim, estivemos lá,
naquela concretude de tempo,
naquela incerteza de espaço,
naquela perfeição de tudo,
na nossa alcova.
No ponto onde estivemos, estivemos a sós e completos.
Tu e eu,
fartos,
plenos,
gratos,
completos de amor.
perdidos, ambos, num mesmo olhar.
Fugimos,
e fixamos morada num ponto onde todas as dimensões foram uma única coisa:
verdade.
A verdade de nossos corpos e almas, a verdade humana do amor e da carne,
aquela coisa única que só sentimos ali.
Sim, estivemos lá,
naquela concretude de tempo,
naquela incerteza de espaço,
naquela perfeição de tudo,
na nossa alcova.
No ponto onde estivemos, estivemos a sós e completos.
Tu e eu,
fartos,
plenos,
gratos,
completos de amor.
quarta-feira, abril 05, 2006
A Cidade
A cidade ferve, a cidade pulsa, a cidade grita, corre, palpita e conjuga uma infinidade imensa de verbos.
A urbe é viva.
Estranho este fenômeno de interação. A cidade devora a vida dos que vivem por ela e cresce, ganhando corpo e movimento, ganhando verbos e mais verbos no seu agir.
Nós, os humanos, temos este hábito: criamos coisas e nos tornamos parte delas.
Todos os dias, acordamos e encarnamos nosso papel no teatro urbano, alimentamos a inquietação coletiva que já nos é natural.
Somos todos uma única figura massiva no cotidiano. A cidade é exatamente isso, a soma dos indivíduos, dos sons, dos movimentos. A fusão das várias energias despendidas em uma única vida: a cidade.
Eis aí um bom paradoxo: A cidade é humana ou o homem é que é urbano?
O fato é que, indubitavelmente, ela “É”, e se apresenta como um gigantesco “Ser” que acorda cedo, tem pressa, trabalha, almoça, se afoba no trânsito, perde a paciência no “rush” e, passado o stress, deixa cair, vertiginosamente, o metabolismo, tornando-se plácida e familiar entre uma “novela-das-sete” e um Jornal Nacional.
Há quem diga também, que ela se enamora da lua e se prostitui nas bocas de noite. Que pode ser vista em bares, embriagada, buscando sedução e fazendo coisas proibidas. Que é ébria, boêmia, nostálgica e festiva nas madrugadas.
Pessoalmente, prefiro vê-la em um trechinho projetado minha janela. Nestas horas em que divido o céu com ela, contemplo-a maternal e cúmplice e ela me olha como em um desabafo, dizendo estar cansada e querer falar pouco, mas que aceita uma bebida, um sorriso e um afago antes de dormir.
A urbe é viva.
Estranho este fenômeno de interação. A cidade devora a vida dos que vivem por ela e cresce, ganhando corpo e movimento, ganhando verbos e mais verbos no seu agir.
Nós, os humanos, temos este hábito: criamos coisas e nos tornamos parte delas.
Todos os dias, acordamos e encarnamos nosso papel no teatro urbano, alimentamos a inquietação coletiva que já nos é natural.
Somos todos uma única figura massiva no cotidiano. A cidade é exatamente isso, a soma dos indivíduos, dos sons, dos movimentos. A fusão das várias energias despendidas em uma única vida: a cidade.
Eis aí um bom paradoxo: A cidade é humana ou o homem é que é urbano?
O fato é que, indubitavelmente, ela “É”, e se apresenta como um gigantesco “Ser” que acorda cedo, tem pressa, trabalha, almoça, se afoba no trânsito, perde a paciência no “rush” e, passado o stress, deixa cair, vertiginosamente, o metabolismo, tornando-se plácida e familiar entre uma “novela-das-sete” e um Jornal Nacional.
Há quem diga também, que ela se enamora da lua e se prostitui nas bocas de noite. Que pode ser vista em bares, embriagada, buscando sedução e fazendo coisas proibidas. Que é ébria, boêmia, nostálgica e festiva nas madrugadas.
Pessoalmente, prefiro vê-la em um trechinho projetado minha janela. Nestas horas em que divido o céu com ela, contemplo-a maternal e cúmplice e ela me olha como em um desabafo, dizendo estar cansada e querer falar pouco, mas que aceita uma bebida, um sorriso e um afago antes de dormir.
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