sábado, junho 19, 2004

Trovão abafado, coração humano.

Lá vou eu, em busca paz.
As montanhas me convidam para longe da cidade.
Há barulho ainda, muito distante e, por isso mesmo, assustador. É a cidade com seu trovoar abafado, algo como uma colméia gigante ou uma enorme máquina escavando à distância, um barulho constante e estático. Uma colônia que se esparrama lenta e ameaçadoramente.
Ouvindo aquilo em meio à paz das montanhas percebi o medo que natureza deve sentir com nossa presença.
Somos praga.
Dou mais um gole na garrafa de plástico, viro as costas e sigo adiante...
Se projetassem o tempo em alta velocidade, talvez sobre meus rastros, num futuro próximo, haverá asfalto, postes, casas, carros passando.
Estranho, mesmo sabendo disso, não consigo parar de andar.

sábado, junho 05, 2004

Formatura.

É só uma graduação, eu sei.É só um bacharelato. Estou a títulos e títulos de distância dos que decidem, dos mais importantes, dos monumentais catedráticos, das cadeiras grandes de madeira rara. Daqueles que têm autoridade formal para falar o que pensam.

Não me assusta a prova de prática III, não me amedronta qualquer outra nota que ainda não recebi e nem tampouco me intimido com a defesa de monografia, os doutores e mestres da banca, ou o temido exame de ordem. Nada disso.

Sequer me assustam os livros caros e os festejados nomes das prateleiras, não não me assustam. Não temo ser confrontado com tantas verdades impalpáveis de tantas teorias fantásticas.

Também não me afetam a vaidade e a mesquinheza dos velhos senhores, dos guardiães das velhas verdades. Não me desanimo com o desprezo daqueles que não acreditam na pureza dos ideais. Não, poderosos senhores, não os temo mais.

Nada disso me abala porque descobri que é preciso transcender o jogo do mundo, é preciso enxergar a verdade humana que quase morre de tão sufocada pela abstração social.

No caminho,quase me esqueci. As fraquezas e as batalhas perdidas quase me afastaram da rota, mas algo sempre me diz que é preciso seguir em frente, mergulhar no erro e aprender. É preciso humildade para ser forte e então me levanto antes do fim da contagem.

Assumo a responsabilidade pelo que escrevi e pelo que falei, porque é preciso ser honesto consigo e com o mundo. Posso errar e falhar, mas minha essência persevera, só ela corrige o erro, só ela redireciona o caminho.

Cheguei até aqui e sei que ainda não fui longe demais, mas daqui mesmo, da beira da linha mando um recado ao mundo: digam a todos que chego sério e certo e que trago a garra de Xangô e a proteção dos anjos e santos. Digam que estou armado e que não temo a sombra ou morte dos vales do mundo. Digam por quantos combates passei e de quantas quedas me levantei, para que vejam que não desisto fácil. Digam que me orgulho de cada cicatriz e em minha alma vibra a vitória. Porque, simplesmente porque eu creio nela. Não há mares ou vales que possam me deter quando me guia a alma sonhadora. Para isso tenho minha armadura diária, para isso estou aprendendo a lutar.

Quero que saibam que comigo vêm mil exércitos, pois não me esqueci daqueles que vi derrotados pelo mundo, daqueles massacrados pela injustiça. Quero que saibam que carrego todos os que amo, e como bom guerreiro me coloco a seu serviço e se minha espada for pequena e solitária, ainda assim, será guerreira e destemida.

Construo minha vida e sinto que tenho algo agora. Não é diploma, não será uma carteira, não é um título. É o que vivi, o que passei, o que senti e o que aprendi.

Nunca fiz nada que não fosse com toda a minha alma, não é agora que será diferente.

Ainda que tenha conhecido as decepções, a miséria e o lado mais cru dessa artificialidade social, ainda assim, acho que posso mudar algo, afinal, já mudei algo em mim.

Faltam alguns dias ainda, mas tenho uma certeza muito sólida do que vem pela frente. Falta pouco, conto as horas. Subirei em um palco pomposo, em vestes pomposas e não me importa que seja o último ou que não me filmem. Serei eu ali. Com a certeza plena do que cabe a mim e do que sou capaz.

Do alto daquele palco olharei nos olhos do meu pai e ele saberá que é ele mesmo ali em cima, que é a sua vida multiplicada em meus atos, que é a sua alma continuando em mim. Olharei nos olhos da minha mãe e ela sentirá seu próprio coração batendo.

É assim, como quem reza, como um guerreiro que jura sua espada, é dessa forma que pretendo me formar, é dessa forma que pretendo construir a minha vida.

"Seja a mudança que você deseja ver no mundo (Mahatma Ghandi)"
"Nenhum caminho por caminho, nenhum limite por limite (Bruce Lee)"

E isso é tudo, obrigado, amigos.