segunda-feira, novembro 10, 2003

Seis anos.

Seis anos!!
Criança de seis anos é para brincar, não pensar em nada e se divertir.
Criança de seis anos é para estar na pré-escola, ter turminha e provocar a turminha das meninas.
Criança de seis anos é para sentir-se totalmente dona do mundo, ainda que seu mundo seja a casa, os brinquedos, desenho animado e os amiguinhos.
Criança de seis anos é para não ter ambição nenhuma, além daquele carrinho bacana ou daquele boneco legal que passou na TV.
Criança de seis anos é para encher a casa de alegria, falar sem papas na lí­ngua e fazer pirraça.
Criança de seis anos é para acreditar em super-herói, bruxa e papai-noel.

Não, criança de seis anos não é para trabalhar de "aviãozinho" para traficante, nem morrer de tiro. Mas morreu!

É surreal demais, mas morreu.

É deprimente demais, mas morreu.

Toda palavra me escapa agora, mas restariam mesmo de todo inúteis. De que elas serviriam? Para acusar o maquinário social e suas falhas cruéis? Para criticar a aceitação humana do capitalismo indiscriminado? Para condenar sua absurda capacidade de não dividir? Para falar de nós, de nossa inércia covarde?

Não, de nada serviriam as palavras agora. Já rogamos sobre nós todas as pragas e maldições que a sociedade poderia: Deixamos mais uma criança morrer.

Aos que crêem em Deus, fiquem certos: neste momento seu peito explode em dor e suas lágrimas são sanguíneas e amargas. Sua tristeza é ira contida e esta ira se voltará contra nós.

Estamos condenados.

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