terça-feira, abril 18, 2006

Ego trip

Viajando pelas veredas de mim mesmo encontrei, guardadas, certas coisas das quais sempre acreditei ter me livrado, por não gostar. Eram lembranças ruins, em que sofro.
E elas estavam guardadas em mim.
Descobri, na verdade, que nunca quisera perdê-las. Estranho apego ao insucesso, estranho culto ao desconforto.
Acomodei-as em memórias sempre visíveis e, por mais insólito que isso possa parecer, fiz, com elas, um ambiente para o qual fujo sempre que algo me assusta.
É como um quarto de misérias que construo quando deveria destruir.
Tentei ignorá-las, rir-me delas e lançá-las fora de vez, mas falhei no propósito. À medida que me desfazia, colhia-as de volta com o desespero de quem cata papéis ao vento.
Notei que não era involuntário, havia vontade minha ali, originada não sei de onde.
Surpreso com minha própria natureza, parei de tentar interferir e fiquei só contemplando toda a dimensão do enorme paradoxo que faz de mim o estranho ser que sou.

Estranho, ser esse ser. Ser esse ser humano estranho.
Humano, estranho ser.
Estranho ser humano, esse ser humano estranho que...
amo ser.

9 comentários:

Anônimo disse...

Este texto me balançou... Fez algo em mim que ainda não sei definir,
ao mesmo tempo que tudo parece tão claro. Acho que ainda preciso de tempo para entendê-lo.Bjs

Anônimo disse...

"esse ser humano estranho que...
amo ser"...sem perceber, eu diria. Já me peguei assim também, querido. E descobri que as más lembranças eram um consolo, pois se as deixasse para trás, na minha cabeça significaria, que situações que as originaram não foram, então, reais (já que se esvaíram) e eu sou leal demais a mim e às minhas percepções para aceitar isso. Besta, né? rssss Vai entender...Mas tenho a impressão que vc entende. Bjo.

Uri disse...

GIO, acho que o melhor comentário que um escritor de textos pode receber é de que quem leu foi balançado. Que bom que vc está comentando agora,rsrs...Bjo.

BIA, acho que o ego se constrói com experiência, né? teoria do caos aplicada, vide "efeito borboleta" somos o resultado do que aconteceu antes e se retirarmos uma peça do passado, o agora se desencaixaria. Bjão.

Anônimo disse...

Se passou e não foi bom...e insiste em ficar em nossas lembranças...Ah amigo,como entender esse nosso coração?Essas coisas que acontecem...e nos fazem refletir e imaginar o porquê de tudo isso.Me vi em suas palavras e foi inevitavél o coment.

Anônimo disse...

Uri, há certas lembranças que insistem em ocupar lugar privilegiado em nossa memória, mesmo não tendo tal direito. A forma que considero menos dolorida de fazê-las passar a um plano secundário e aos poucos se apagarem é a "construção cotidiana de futuras boas lembranças". Abraço.

Anônimo disse...

quando tivermos a capacidade de afastar o presente ao bel-prazer, encontraremos perdidos em nós mesmos um passado que não será nada mais do que uma mentira.

Anônimo disse...

"...A dor no fundo esconde uma pontinha de prazer, minha flor, meu bebê!" Cazuza
"Um homem, com uma dor é muito mais elegante, caminha assim de lado, como se chegando atrasado, andasse mais adiante... ópios, éteres, analgésicos, não me toquem nessa dor..."Itamar Assunção
Beijabraços da Cristina do Bandeijão

Anônimo disse...

TE AMO MEU ANJO.

Anônimo disse...

"Na noite terrível, substância natural de todas as noites, Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incômoda, Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo. (...)
Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca Como uma verdade de que não partilho, lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p’ra mim."
Essa noite não dormi... Insônia...
Daí fui dar uma olhadinha no seu blog, relembrar você... e lendo algumas coisas me deparei com esse texto... Lindo, lindo... Guarda nele um tormento, uma angústia que já senti muitas vezes.. profundo; toca a alma.. então tomei coragem e resolvi deixar um recadinho, achando eu, humildimente, que se encaixa bem ao que você é, se amolda ao que você passou para mim e nessa parte, especialmente, lembrei da gente: "Acomodei-as em memórias sempre visíveis e, por mais insólito que isso possa parecer, fiz, com elas, um ambiente para o qual fujo sempre que algo me assusta." Um beijo