sábado, dezembro 10, 2005

Momento absurdo

Naquele beijo, devorou o mundo.
Comeu, naquela ânsia de bocas, todas as coisas que lhe foram negadas durante toda a sua vida.
Beijou bebendo água com sede incontrolável.
Beijou à toda paixão, à todo instinto, à toda loucura.
Naquele beijo, o instante foi nu, e a vida, real.
Os corpos, as bocas, a saliva, a ânsia, o instinto, a fome, a paixão.
Tudo foi tão nítido e tão certo.
O tempo parou naquele beijo faminto.
E era seu, o beijo. Era seu aquele tempo parado, aquela magia impensável.
A pele incandescente e o corpo eloqüente na dialética hormonal.
Dizia paixão em cada gesto e cada toque. A febre irradiava, o sangue explodia nas veias.

E ela bebia o beijo também, no mesmo manancial e com a mesma sede.
E sua paixão enfim vazou todas as regras e medos.
E aquele instante tão concreto e tão denso envolveu-a de tal maneira podia perceber o tempo parando e a gravidade se anulando.
Flutuva, mergulhada no beijo.
A pele respondeu à febre dele e se incendiou também, e os pelos eriçaram dizendo que a pele viva e elétrica compreendia aquela linguagem dos corpos.
Ergueu-se na ponta dos pés e os olhos, fechados viram profusões de vermelho.

Eram um, eram a pura perfeição.

As lágrimas colavam o cabelo na face e a saliva recendia aquele cheiro que carregariam naquele canto da memória responsável pelas lembranças de nó na garganta e pernas trêmulas.
Aquele beijo era infinito, duraria por toda a vida e pelas vidas que viessem ainda depois daquela.
Aquele beijo era um totem, um sinal sagrado de que suas vidas estavam ligadas para sempre.
Aquele beijo era a razão do antes e do depois, numa síntese de agora.

Viveram uma vida inteira naquele devorar de bocas.
Amaram-se, casaram-se, fizeram filhos, planos, sonhos, viagens, jogaram pedras em lagos, sentaram em bancos de praça e, como um caleidoscópio girando em alta velocidade, nunca puderam compreender ao certo todas as imagens que lhe passavam pela cabeça.

Beijaram-se e foram pura paixão e naquele infinito instante à margem do tempo.
A vida, ali, soube à perfeição.

11 comentários:

Anônimo disse...

Caramba! Não vejo a hora de ler todo seu blog. Que perfeição. Fiquei arrepiado com esse post. Descobri um poeta..Valeu pelo seu comentário Uri no letrados. Vamos manter contato. Abração.

Anônimo disse...

Oi,q bj bom hein?É o melhor q tem:apaixonado!
Deu saudade!
Bjus Uri!Boa noite!Ah,adorei a cv!Tenho filme demais p ver agora,rs...

Anônimo disse...

Vim agradecer e retribuir a visita e dou de cara com um post de tirar o fôlego. linda construção. adoro ler a imagem. ler e poder visualizar. lindo.
beijos!

Anônimo disse...

doce, seu comentário.
me encantou.
beijocas!

Anônimo disse...

Uri, vim pelas vias da Sanka! E adorei te encontrar aqui. Lindo tudo isso, viu? Bjus

Anônimo disse...

Que beijo é esse, meu deus!Passei..."Aquele beijo era um totem, um sinal sagrado de que suas vidas estavam ligadas para sempre" lindo, lindo, lindo. E faço questão de registrar, como não conhecia o blog,que estou apaixonada pelo "Estrada, coração e alma" Escreva sempre assim! Bjs.

Anônimo disse...

porque é possível fazer a vida a partir de um beijo. do encontro do sagrado e do pecado. do infame e do holocausto. da modéstia e da presunção. a união lacônica e entrega possível. o início. o beijo. demais! muito bom! parabéns.

Anônimo disse...

Olá amigo! Passei para desejar um final de ano mágico para vc, com toda a inspiração para continuar produzindo estes poemas lindos.

Anônimo disse...

Vim te desejar Feliz Natal.
beijos!

Anônimo disse...

vamos atualizar?

Lucimar Justino disse...

Caraka, ADOREI a Fotopalavra, kara!!! "Momento Absurdo" é divino, uma imagem belíssima vai se formando na medida em que se lê o texto e, quase no fim "Amaram-se, casaram-se, fizeram filhos, planos, sonhos, viagens, jogaram pedras em lagos, sentaram em bancos de praça...".

Belo poema! Gostei do seu blog, podemos manter contato se quiser.

Abraços literários!