segunda-feira, abril 12, 2004

Fazenda

São tantas as cenas que assaltam meus sentidos, e tão impressionantes que sinto obstinação em assegurar que a memória registre cada detalhe e cada cena.
Um bosque ao entardecer, com passaros anunciando a fuga do sol, guardando uma paz mágica a uma temperatura perfeita. Três cavalos correndo pelo pasto, um deles dominando os demais, resfolegando, batendo os cascos e erguendo a cabeça, impondo o medo de forma encantadora. Uma gata caçando mariposas, libertando toda a selvageria e malícia do espírito felino. Formigas labutando severamente. Um besouro desnorteado em busca de luz, voando suicida em direção ao fogo.
São tantos os quadros e tão complexos que temo ser infinita a sua descrição, e de tão infinita, inútil.
Acima de tudo isso, um céu como não se vê na cidade, e nele, indícios de uma infinitude ainda maior. Um destempero de astros, sóis, galáxias. Os constantes movimentos da luz, raiz absurda da nossa maior ilusão: o tempo.
Pensar em tudo isso é inquietante, quando não desesperador.
Por isso me sento no bosque, contemplo os cavalos, a gata, as formigas, o besouro. Nestas horas só me concentro em uma coisa: esquecer do tempo e deixar que a vida passe mais suavemente por mima. Permitir, por um só instante, que o infinito seja isso.

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